FILHOS DO SILÊNCIO
Autora: Elisa Marina
Editora: Lampejos
Ano: 2015
Páginas: 159
Sinopse: Filhos do Silêncio é um romance auto-ficção que conta a história de Natália, uma profissional bem sucedida, com quase 40 anos de idade, e um histórico afetivo de relações amorosas e frustradas. Sonhadora, cultiva o desejo da maternidade a cada início de namoro; que é interrompido a cada fim.
E após mais um fim de relacionamento, repensa sua vida e resolve deixar para trás a objetivo apenas na sua realização profissional. Recuperada e feliz, na noite que parecia ser o início de uma nova vida, o seu maior desejo é realizado da forma mais cruel que uma mulher possa imaginar. Vítima de estupro, seu sonho transforma-se no seu maior pesadelo. A partir daí, vê-se diante de uma difícil escolha: gerar ou não uma criança indesejada?
Filhos do Silêncio faz uma análise do papel da mulher na sociedade contemporânea. Analisa a busca excessiva pela maternidade, quando questiona se, de fato, este é um desejo genuíno da mulher ou apenas uma inconsciente necessidade de satisfazer aos apelos sociais. O livro ainda aborda se o caminho para a felicidade tem que passar pelo matrimônio.
Olá, pessoal!
Hoje venho contar a vocês um pouquinho do que senti com a leitura de "Os filhos do silêncio", livro da Editora Penalux, selo Lampejos.
O livro de Elisa Marina é forte, pesado, extremamente real e, em alguns pontos, causa um aperto no estômago.
Conforme se pode perceber na leitura da sinopse, o livro trata da história de Natália, publicitária e cheia de sonhos, da qual o aniversário de 40 anos se aproxima.
Com os 40 anos, estão chegando para Natália, segundo a sociedade, o fim do seu prazo para se casar e também para ter filhos. Quanto a esse último, seu médico também concorda, o que a deixa ainda mais desesperada.
Natália nos conta, com muita sinceridade, os detalhes de suas relações e de suas frustrações nas várias tentativas de um relacionamento sério, que possa culminar em casamento.
Também fala muito bem sobre as cobranças da sociedade e, ao parar para pensar, vejo que as pessoas amam criticar e cobrar, não importa o motivo.
Se a moça não tem namorado, o exigem. Se namora, cobram logo o casamento. Depois, ficam ávidos pela gravidez. Quando se tem um filho, pedem logo outro e, após o segundo, perguntam se não se quer mais um. O mesmo se dá em relação a estudos, carteira de habilitação, mudança de emprego e aprovação em concurso, somente para citar alguns exemplos do que a mulher enfrenta diariamente!
"Ser exceção à regra incomoda muitas pessoas. Você tem que casar. Você tem que ter filhos. Você tem que ter mais de um filho. Estes filhos tem que lhe dar netos."
Sem sucesso em outros relacionamentos amorosos, finalmente Natália encontra um parceiro com quem pretende dividir sua vida. Mas também com esse se decepciona de forma muito trágica, pois descobre a traição logo com uma das pessoas a quem mais ajudou.
"Vivemos uma inquietude egoísta em que as pessoas não querem mais escutar as razões pelos erros dos outros. Um atraso de trinta minutos é considerado falta de comprometimento. E fim."
Após lenta recuperação desse ocorrido, Natália descobre um problema de saúde que, para ser solucionado, lhe deixa com pouquíssimas chances de engravidar.
Quando finalmente o leitor enxerga uma luz no fim do túnel para a vida de Natália, um estupro o surpreende e joga por terra todas as ilusões dela.
Como se pode imaginar, nossa personagem principal está tão destroçada que muda completamente a sua vida, perde não apenas a sua capacidade de decisão sobre o sexo naquele momento, mas seu emprego, seu apartamento e tudo o que fazia parte de seu dia-a-dia até aquela data.
Mas o pior ainda estava por vir: de modo bastante lento e com uma narrativa forte, densa, mas extremamente real, Natália nos conta que aquele estupro lhe gerou um filho.
Agora aquele filho, antes tão desejado, surge de forma bastante repugnante em sua vida e ela não sabe como deve agir; o que gera uma contradição de sentimentos e pensamentos nela e no leitor.
As discussões sobre a culpa da mulher no estupro, o sentimento de tê-lo provocado e se o merecia estão presentes em cada página após o ocorrido.
Achei de extrema importância a abordagem da autora, pois temos tido os mesmos discursos em nossa sociedade, já que a culpa por ser assediada, estuprada, violentada - e muitas vezes morta - sempre recai no ombro da mulher, o que considero um absurdo!
"Cris sentia dor pior. A dor da mãe que sofre ao ver o sofrimento do filho. A mãe que sofre por sentir-se impotente e nada poder fazer. Sofrer por um filho faz parte do ser mãe."
A edição tem uma linda capa que, assim como o título, revela um pouco do conteúdo do livro. As folhas são amareladas e a fonte é pequena, mas confortável à leitura. Encontrei pouquíssimos erros, mas não comprometeram o entendimento.
Gostei bastante da história do livro, das discussões que ele provoca e recomendo aos fãs de dramas fortes, com temas polêmicos e bem escritos!
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