30 de novembro de 2017

[Resenha] A mãe de todas as perguntas

A MÃE DE TODAS AS PERGUNTAS
Autora: Rebecca Solnit
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2017
Páginas: 200

Livro cedido em parceria com a editora



Sinopse: Rebecca Solnit é hoje uma das principais pensadoras do feminismo contemporâneo. Autora do famoso ensaio que deu origem ao termo mansplaining, que veio revolucionar o vocabulário das discussões sobre gênero, sua obra é leitura obrigatória tanto para as pessoas mais experimentadas no tema quanto para aqueles que desejam se iniciar em um dos principais debates da sociedade atual. Em A mãe de todas as perguntas, Solnit parte das ideias centrais de maternidade e silenciamento feminino para tecer comentários indispensáveis sobre diferentes temas do feminismo: misoginia, violência contra a mulher, fragilidade masculina, o histórico recente de piadas sobre estupro e outros mais. Cristalinos e contundentes, seus ensaios devolvem ao tema toda a gravidade ele merece, sem abrir mão da poesia e do humor característicos de sua escrita.




Estou aqui hoje para falar um pouquinho de como foi a minha leitura de "A mãe de todas as perguntas", recebido em parceria com a Editora Companhia das Letras.

Começo a resenha contando a vocês que me encantei pelo título e sinopse desse livro no momento da escolha do mesmo no catálogo da editora.




Assim que chegou, iniciei a leitura e me deparei com uma escrita muito mais técnica do que estou acostumada, o que me exigiu mais concentração e estudo para realizar uma leitura realmente proveitosa.

Se trata de um livro de ensaios, algo que confesso para vocês que nunca havia lido em minha vida! 

"Em toda a violência há autoritarismo ou a sensação de se achar no direito de fazer aquilo. Dizemos que o assassino tomou a vida de outra pessoa. Tomar é se apoderar."

Através de exemplos de casos do passado e de outros atuais, a autora nos propõe diversas reflexões sobre como o machismo está arraigado em nós, homens e mulheres de todos os locais do mundo. E o pior é que nem percebemos!

Mas se engana quem pensa que se trata de um livro maçante! A leitura é deliciosa, pois parecem que gavetas se abrem, a cada página lida, na cabeça do leitor, o que proporciona não apenas rasas reflexões, mas uma verdadeira compreensão que culmina na mudança de atitudes a partir dali.

Estou acostumada a realizar leituras com a temática feminista, mas nunca nenhum livro nessa direção me tocou tão profundamente a respeito das questões de gênero, de luta pelas minorias, de despertar para uma sociedade mais justa para todos.




São muitos os exemplos citados pela autora e, claro, a revolta que os casos reais nos causa é combustível que leva a um engajamento cada vez maior na vertente feminista.

"O estuprador pode lhe dizer: 'Você não foi estuprada.', e aí, se você insistir, ele pode ameaçá-la de morte, pois matar é o jeito mais simples de ser a única voz na sala."

É muito interessante também a opinião da autora sobre os homens que se revoltam quando dizemos, por exemplo, que 'homens são estupradores em potencial' ou que 'o culpado pelo estupro é sempre e apenas o estuprador', com a justificativa de que nem todos os homens são estupradores e que estaríamos generalizando.

Segundo a autora - e eu concordo muito - nem todos os homens são estupradores, realmente, mas TODAS as mulheres, estupradas ou não, sofrem o impacto dos estupros!



Outro ponto que achei interessante foi que a autora não teve medo de abordar outros assuntos polêmicos, dentre eles o alcoolismo, o livre comércio de armas para civis e o racismo, todos com singular maestria!

"É absolutamente raro que um indivíduo armado entre numa situação caótica e, como o herói pistoleiro de um bangue-bangue, atire com precisão e eficiência, eliminando os maus e poupando os bons."

A edição está maravilhosa, com uma capa ao mesmo tempo simples e chamativa, em tons de roxo e laranja, com verniz e alto-relevo muito bem aplicados. As folhas pouco amareladas  e a fonte escolhida são confortáveis à leitura.

Não há como passar em branco por um livro como esse! Considero leitura obrigatória para as feministas e recomendo a todos os que buscam entendimento para uma sociedade melhor para as minorias em geral.


Clique aqui e adicione A mãe de todas as perguntas no Skoob.



27 de novembro de 2017

[Resenha] As Perguntas


AS PERGUNTAS
Autor: Antônio Xerxenesky
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2017
Páginas: 184

Livro cedido em parceria com a editora


Sinopse: Alina enxerga sombras e vultos desde criança. Doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultistas e aferrada à racionalidade que tudo ilumina, ela se acostumou a considerar as aparições como simples vestígios de sonhos interrompidos. Certo dia, um telefonema da delegacia desarruma sua rotina de tédio programado. A polícia suspeita de que uma seita vem causando uma onda de surtos psicóticos em São Paulo. A única pista disponível é um símbolo geométrico desenhado por uma das vítimas. Intrigada e ansiosa para fugir da rotina, Alina decide investigar por conta própria um mistério que a fará questionar os limites entre razão e religião, cultura e crença.
Em 'As perguntas', Antonio Xerxenesky costura o tédio da vida cotidiana com o desconforto do horror em um livro repleto de referências ao universo dos filmes, da música e do ocultismo.





Xerxenesky traz, nessa breve história, a tensão inerente à busca da verdade para si próprio. 

Alina, personagem principal do romance, se depara com a possibilidade de procurar respostas para temas que a assolam desde a infância; um vulcão adormecido que não pode mais permanecer inerte, subvertendo o marasmo e a passividade de uma rotina cumprida mecanicamente, incapaz de lhe proporcionar satisfação ou paixão pela vida.



A garota estava no escritório em que trabalhava realizando mais uma edição de imagens e vídeos, atividade pela qual não nutria admiração nem tinha a menor relação com o que ela havia estudado e também era doutoranda, até que o telefone toca e a mulher do outro lado se identifica como delegada de polícia. A princípio, um pouco assustada e confusa com a situação, Alina leva algum tempo para compreender o propósito do contato, mas a delegada a convida para comparecer ao distrito policial para que ela colaborasse com uma investigação.

A delegada, ao receber Alina, lhe explicou o porquê do convite. Há algum tempo têm ocorrido fatos curiosos envolvendo pessoas que parecem perder a razão em situações um tanto suspeitas. Essas pessoas foram encontradas caminhando desnorteadas e a proferindo um discurso desconexo, pelo menos para a polícia, que inicialmente as procuravam por seu desaparecimento. 

No entanto descreveram um símbolo geométrico que intrigou a todos durante a investigação. Por isso chamaram Alina, formada em história com especialização em religiões, no intuito de lhe perguntar se ela conhecia o tal símbolo, tendo em vista seus conhecimentos acerca do ocultismo.

A garota acaba não sendo capaz de contribuir para elucidar a origem do símbolo, frustrando a delegada que acreditava se tratar de alguma seita. Mas a figura desperta nela muito mais que uma simples curiosidade; desperta o desejo e a necessidade de encontrar respostas para as dúvidas que já vem carregando há tanto tempo. 

Defensora de um ceticismo ferrenho, a protagonista se vê obrigada a questionar a verdade sobre a existência do sobrenatural, do espírito e de tudo que possa existir e não estar visível aos olhos viciados e conformados a apenas o que é habitual.

Essa busca a colocará sob riscos físicos e psicológicos, pois Alina se aventura de maneira solitária por bairros de São Paulo que não conhece. Acentua-se a aura tenebrosa pelo frenético cenário da madrugada e as coincidências que cercam a moça em seu alucinante roteiro.



A mensagem do autor pareceu-me estar mais centrada em contestar aquilo que colocamos como certeza nos nossos discursos e opiniões, nos levando a refletir com mais calma e sermos mais maleáveis antes das conclusões. O tema não é fechado por Xerxenesky, ou seja, o debate deve continuar ocorrendo, possibilitando visões diversas sobre o mesmo tema.


Clique aqui e adicione As Perguntas no Skoob





25 de novembro de 2017

[Série Indicação] Scandal


Olá pessoal!

Na coluna de hoje, escolhi falar sobre “Scandal”. Trata-se de mais uma série escrita por Shonda Rhimes, que também é responsável pelos sucessos de “Grey’s Anatomy” e “How to Get Away with Murder”, que também já apareceu aqui no blog esse ano. “Scandal” estreou em 2012 no canal americano ABC e atualmente está em sua 7ª temporada, que, de acordo com anúncios da emissora, será a última.

Os leitores mais assíduos do blog sabem que eu gosto muito de séries com pano de fundo político, e com “Scandal” não é diferente. Bem como “House of Cards” e “Designated Survivor”, a série se passa em Washington D.C., nos Estados Unidos. O enredo gira em torno de Olivia Pope; Olivia dirige um escritório de gerenciamento de crises, que é contratado pelos poderosos de Washington quando se envolvem em escândalos e situações adversas, para que consigam manter a credibilidade. Dessa forma, Olivia é uma “fixer”; ela resolve problemas.




O grande argumento da série, porém, é que Olivia possui um grande problema a ser resolvido em sua própria vida: ela mantém um relacionamento amoroso complicado com ninguém menos que o presidente dos Estados Unidos, Fitzgerald Grant III, que, por sua vez, é casado com Mellie Grant. É nesse explosivo cenário que o enredo de “Scandal” se desenrola, envolvendo tramas políticas, brigas pelo poder e até mesmo espionagem, quase sempre tendo a Casa Branca como cenário principal. Há muitos arcos de história paralelos, o que proporciona bastante dinamismo à série.

Seguindo a linha do universo de Shonda, Olivia é uma protagonista feminina muito marcante. Assim como Annalise Keating (protagonista de “How to Get Away with Murder” vivida pela excelente Viola Davis), ela não é uma mocinha pura e simples; pelo contrário, é uma “quase heroína” extremamente bem desenvolvida, com muitos conflitos e personalidade muito forte. É muito difícil não torcer por ela. Kerry Washington prova constantemente que foi a escolha ideal para viver Olivia, dando sensibilidade e vulnerabilidade a uma personagem que poderia ser percebida como robótica, dada a sua força. O elenco ainda conta com nomes como Tony Goldwyn, que interpreta o presidente Grant, e a ótima Darby Stanchfield, que, como Abby Whelan, destaca-se na equipe do escritório “Pope e Associados”.


“Scandal”, portanto, é mais uma daquelas séries em que a política ganha cores e acaba se tornando uma personagem tão importante quanto outros de carne e osso. É outra produção “ame ou odeie” da Shonda Rhimes. Eu adoro todas, então com “Scandal” não poderia ser diferente. Mesmo que séries políticas não sejam seu tipo favorito, vale a pena conferir para conhecer Olivia Pope, que, para mim, está no mesmo nível de incrível de Claire Underwood (“House of Cards”) e Alicia Florrick (“The Good Wife”).

E vocês? Já viram “Scandal”? O que acharam? Contem pra gente nos comentários.
Até a próxima! =)



23 de novembro de 2017

[Resenha] Revoada


REVOADA
Autor: José Fernando Guedes
Editora: 7 Letras
Ano: 2017
Páginas: 76

Livro cedido em parceria com a Oasys Cultural

SinopseMesclando textos em prosa poética a versos que revelam um olhar atento ao cotidiano e aos personagens da vida urbana, José Fernando Guedes constrói suas cenas e histórias com raro talento. Entre as emoções diárias que vivemos e/ou observamos e o voo inocente dos pássaros que nos veem do alto, o poeta revela sempre algo a mais – abrindo nossos olhos para a beleza do que está à vista de todos, e só é preciso parar para enxergar.




Olá!

Hoje venho com a resenha de um livro bem curtinho, porém recheado de sentimentos.

Revoada, de José Fernando Guedes, publicado pela Editora 7 Letras, traz um apanhado de pequenos textos e poesias, onde o autor coloca toda sua sensibilidade, emoções e crenças.



Ao todo são 50 textos e poesias que li em uma sentada só, degustando cada palavra de tão envolvida que fiquei. Às vezes nas tribulações e correria do nosso dia a dia deixamos passar pequenas belezas e são esses momentos que o autor retrata através de seus olhos de forma poética e encantadora.

Sakura
As flores da cerejeira brotaram
ontem lindas
Hoje pela manhã, um vento de mau humor
as lançou no chão
Formaram um tapete (mesmo mortas eram lindas)
sobre o qual, atônito, eu caminho, indagando.
No próximo inverno
essas flores não serão lembradas
nem por mim, nem pelo vento,
nem pelas novas que virão. 
Lindas como sempre.

O que gostei muito na escrita do autor foi a facilidade em se expressar e colocar no papel suas emoções mais profundas e guardadas.

Amor, saudade, fé, beleza são temas que você encontra ao ler Revoada e viaja em suas páginas.



A edição, bem simples, está perfeita! As páginas são amareladas e a fonte em tamanho ideal para uma leitura confortável.

Eu recomendo para todos que amam poesia!

...A solidão não evapora
transmuta em pedra severa
e me machuca agora
com uma dor sincera.



Clique aqui e adicione Revoada no Skoob



20 de novembro de 2017

[Entrevista] João Paulo Foschi

Olá, leitores queridos!

No post de hoje, o Blog Pacote Literário traz uma entrevista especial com o autor parceiro do blog, João Paulo Foschi!


Vamos conhecer um pouquinho mais sobre ele?!


1 - Quem é João Paulo Foschi?
R: O João Paulo Foschi é antes de tudo um nome literário, apesar de que o sobrenome do meu pai é Foschi (filho de italiano e espanhol). Entendo que somos pessoas diferentes: o João Paulo do convívio social não é o mesmo João Paulo, escritor, com o qual o leitor terá contato por meio do meu texto. Isso pode parecer simples, mas para muita gente é difícil separar a figura do artista da pessoa física, com suas qualidades e defeitos. Geralmente, o escritor tende a ser uma figura artística bem mais sacralizada do que a imagem que se tem de um ator, cantor, etc.

2 - Quando e como começou a escrever?
R: Sempre gostei de rabiscar papel e inventar pequenas histórias. No meu último ano do 2º grau (hoje ensino médio) em 1997, fiz um trabalho de geografia intitulado “Diário do Astronauta”: uma narrativa no qual eu era personagem, junto com os demais colegas da minha equipe, vivendo algumas aventuras no espaço. O trabalho tirou nota 10, e estava tão bom que nós colegas de equipe resolvemos sortear para ver quem guardaria a “relíquia”. Infelizmente, não fui eu quem ganhou, mas uma colega e amiga que hoje mora em Roraima. Mas graças a Deus, eu sei que com ela o trabalho deve estar bem guardado...

Depois disso, só em 2004, numa época meio conturbada, é que voltei a escrever; desta vez poesias, das quais algumas, posteriormente, foram publicadas em algumas antologias poéticas. Naquele período, nem me ocorria a intenção de escrever um romance, o que só veio a acontecer mesmo em 2013, enquanto eu fazia a faculdade de Letras. Foi aí que comecei a rascunhar “A Condessa de Assis”.

Depois disso, em 2016, escrevi minha primeira novela – “A Outra”, que foi lançada digitalmente através da Amazon, mas que atualmente está fora de circulação. Prefiro pensar na possibilidade de relançá-lo no formato impresso.

3 - Tem algum autor que considere uma referência para o seu trabalho como escritor?
R: Sempre há alguma referência/influência. Escritores brasileiros e portugueses do século XIX sempre me chamaram a atenção: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Aluízio Azevedo, Machado de Assis, Eça de Queirós, Júlio Diniz, etc. Durante o curso de Letras (minha habilitação é em Língua Francesa), tive contato com autores do quilate de Voltaire, Victor Hugo, Bernardin de Saint-Pierre, Madame de Lafayette, Diderot, Balzac, Flaubert, Maupassant, etc., que ampliaram o meu horizonte de perspectiva literária; mas eu sei que tem muita coisa boa por aí, a ser descoberta, mesmo em nível de Brasil. Agora mesmo, para o mestrado em Literatura, estou pesquisando os romances regionalistas de Afrânio Peixoto (1876-1947), um escritor baiano de renome internacional que foi esquecido pela historiografia literária brasileira.

4 - Percebi que você tem habilidade para escrever romances de época, mesclando história e ficção. A escrita varia de acordo com a inspiração do momento ou você estabelece o estilo antes de começar a escrever cada um deles?
R: Machado de Assis afirmava em seu prefácio ao romance “Helena” (1876) que cada obra pertence ao seu tempo. Concordo com ele, pois, de fato, nada impede uma mudança no meu estilo de escrita e de ideias, o que já notei logo que comecei a escrever “A Outra” (2016). Perceba que entre este último e “A Condessa de Assis”(2013) há um hiato de quase quatro anos. Na novela “A Outra” há uma concepção totalmente psicanalítica, com as desventuras de uma mulher neurótica e apaixonada por um homem que não a ama.
Quanto a escrever romances históricos, acho que esse foi o grande mote para a minha estreia como romancista. Se eu não tivesse feito Pedagogia e Letras, eu gostaria de ser historiador. Na infância, sempre me senti atraído pelas aventuras de Indiana Jones, arqueólogo e investigador de civilizações antigas. Escrever narrativas de época, de certa forma, compensa essa minha “frustração”.

5 - Fale um pouco sobre "A condessa de Assis". 
R: “A Condessa de Assis” é um “revival” de romances do século XIX, a exemplo dos clássicos brasileiros e portugueses do nosso Romantismo/Realismo. No entanto, gosto de esclarecer que nada disso tem a ver com influência das obras de Jane Austen ou outros do gênero “vitoriano”, que estão em alta no mercado editorial. Nada contra quem goste dessas leituras, mas a minha proposta é outra: o brasileiro é muito carente de identificação e essa já era uma preocupação dos primeiros românticos, como Gonçalves Dias e José de Alencar. Tão preocupante é que, quando leitores brasileiros comparam meu livro a obras como “Amor e Preconceito” (Jane Austen) ou à série dos “Bridgertons” (Júlia Quinn) isso demonstra desprezo ou desconhecimento de que há bons livros desse mesmo estilo aqui no Brasil. 

Na verdade, até sei qual é um dos principais motivos geradores desse distanciamento: a imposição da leitura dos clássicos no colégio por causa do vestibular/ENEM. Os alunos veem com maus olhos tal imposição e isso acaba por afastá-los de leituras que deveriam ser feitas como um processo natural de formação do jovem leitor. No entanto, se serve de consolo, esse débito não é só nosso. Por exemplo, pergunte a algum americano comum se ele já leu “Moby Dick”, o grande romance americano, e veja que o resultado não será diferente do nosso...

Fechando o parêntese, é essa a intenção de “A Condessa de Assis”: mostrar que por trás da história de uma jovem ambiciosa se ocultavam importantes questões políticas e sociais que estavam em ebulição no Rio de Janeiro. Lorena, a protagonista, presencia a assinatura da Lei Áurea e foge do país enquanto o Brasil é vítima de um golpe militar que instaura a República.


6 - Tem algum personagem favorito em algum de seus livros ou um com quem mais se identifique? 
R: Tudo que escrevo tem algo do João Paulo Foschi. Gustave Flaubert tornou célebre a declaração: Emma Bovary c’est moi! (Emma Bovary sou eu!) atribuindo a si a responsabilidade pela descrição da protagonista de “Madame Bovary”, sua obra-prima. O crítico literário Harold Bloom afirma que todo escritor deseja despersonalizar-se e desprende-se de sua ficção; mas parece que quanto mais a gente nega, mais fica evidente a marca da nossa “digital” no texto... Eu gosto de todos os personagens que criei, porque são parte de mim, não havendo um mais importante que o outro.

7 - Qual o seu próximo projeto?
R: Assim como o Tomo I, o segundo volume de “A Condessa de Assis” (“The Countess of Assis”) está sendo traduzido para o inglês, o qual estará disponível na Amazon e nas demais plataformas digitais no início de 2018, e, por enquanto, apenas no formato de e-book. A narrativa completa de “A Condessa de Assis” encontra-se também disponível na rede social Wattpad.

Estou escrevendo um novo romance histórico (ainda sem previsão de concluir) e, sim, com outros projetos literários, os quais, só aos poucos, é que se farão conhecidos do público.

8 - Deixe um recadinho aos nossos leitores.
R: Quero agradecer primeiramente ao blog Pacote Literário pela parceria, e aos leitores de perto e de longe que apreciam “A Condessa de Assis”. Desde a tradução do livro para o inglês, tenho recebido manifestações de apreço de vários lugares do mundo através da página do romance no Facebook.

Valorizemos a literatura nacional, pois é ela quem nos identifica. Se não a amarmos, quem amará?



João Paulo, o Blog Pacote Literário agradece pela entrevista! Reiteramos nossa admiração pelo seu trabalho e lhe desejamos muito sucesso !!!




15 de novembro de 2017

[Filme] A culpa é das estrelas


Gênero: Drama
Ano: 2014
Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort , Willem Dafoe , Nat Wolff , Laura Dern , Sam Trammell , Mike Birbiglia

Dirigido por Josh Boone, o filme, baseado no livro de mesmo título, nos conta a história de uma adolescente com câncer em estágio avançado.

Antes de continuar, deixo claro que adorei a história e que me emocionei muito durante a leitura do livro e que foi impossível não fazer comparações entre a obra a sua adaptação ao cinema.


Com apenas 16 anos, a protagonista Hazel Grace (encenada por Shailene Woodley), tem câncer na tireoide desde os 13 anos, com metástase no pulmão, o que a obriga a usar cânulas que são colocadas na entrada do nariz para que o oxigênio (que vem de um cilindro puxado por ela em uma espécie de carrinho), chegue devidamente aos pulmões.

Sua mãe acredita que Hazel está em depressão e, certo dia, insiste para que ela compareça a uma reunião de jovens com câncer. Justamente neste dia, conhece Gus, Augustus Waters (encenado por Ansel Elgort).

Eles se aproximam e se tornam amigos rapidamente. Hazel empresta a Gus seu livro preferido, "Uma aflição imperial" e, após a leitura, eles discutem sobre o autor do mesmo ter optado por terminar o livro de repente, sem se preocupar em escrever um final para todos os personagens que julgavam importantes.

Hazel explica a Gus que escreveu ao escritor para questionar tal fato, mas que ele nunca lhe respondeu.


Completamente apaixonado por Hazel e para impressionar sua amada, Gus não apenas consegue tal contato, mas marca uma reunião com o autor do livro favorito dela.

Detalhe: o autor de "Uma aflição imperial" reside EM OUTRO PAÍS! Um corpo médico (onde Hazel é atendida) desaconselha a viagem, mas ela ocorre mesmo assim! Esse foi o primeiro motivo que me deixou um pouco "insegura" com relação ao filme. Vale ressaltar que no livro também ocorre, mas acho que a cena da proibição foi mais forte no filme.

Outro ponto que me deixou um pouco confusa foi que, em certo momento, Hazel, Gus e um amigo, para se vingar de uma ex-namorada que o abandonou, jogam ovos no carro da mãe da moça, que sai à porta e, após uma explicação (quase uma ameaça), VOLTA PARA CASA sem mais discussões e os três adolescentes continuam a empreitada dos lançamentos de ovos.

Fora a cena surreal da subida das escadas do museu de Anne Frank que, para mim foi desnecessária para uma pessoa que está com câncer de pulmão em estado terminal! (Quem leu ou assistiu entenderá).


O filme é extremamente fiel à história do livro mas, para mim, na adaptação faltou emoção.

Comentando sobre o filme com um amigo que não realizou a leitura prévia da história, ele definiu de forma crucial: "O filme é triste sem ser emocionante." E eu sou obrigada a concordar com ele: muitos diálogos são cansativos; a completa indiferença com que Hazel parece lidar com a sua doença não nos comove; entre outros fatores, para mim, fizeram com que o filme não fosse tão interessante quanto o livro.

Fora isso, o romance "bonitinho" é um ponto interessante, a forma como se desenvolve e a falta de experiência de ambos são bem reais para a idade dos personagens e isso torna o filme mais legal.

Para mim, dois personagens merecem destaque: a Sra. Lancaster, mãe de Hazel, interpretada por Laura Dern,  que consegue transmitir realidade ao se preocupar em excesso com a filha (com exceção da autorização para a citada viagem) e Isaac, o melhor amigo de Gus, interpretado por Nat Wolff. Ele vive um grande drama que, em minha opinião, foi repassado ao expectador com bastante verdade.



Para quem gostou do livro, super recomendo assistir ao filme. Mas, ao contrário da maioria das críticas que li desde o seu lançamento, a adaptação realmente não conseguiu me emocionar quase nada em comparação ao livro.


E você, teve já assistiu ao filme? Concorda comigo? Conte-me abaixo, nos comentários!




13 de novembro de 2017

[Resenha] Suicidas


SUICIDAS
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2017
Páginas: 432

Livro cedido em parceria com a editora


Sinopse: Antes que o mundo pudesse sonhar com o terrível jogo da baleia azul, que leva jovens a tirara própria vida, ou que a série de televisão 13 Reasons Why fosse lançada e set ornasse o sucesso que é hoje, Raphael Montes, então com 22 anos,já tratava do tema do suicídio entre jovens, com a ousadia que virou sua marca registrada. Em seu primeiro livro, que a Companhia das Letras agora relança acrescido de um novo capítulo, conhecemos a história de Alê e seus colegas, jovens da elite carioca encontra dos mortos no porão do sítio de um deles em condições misteriosas que indicam que os nove amigos participaram de um perigoso e fatídico jogo de roleta russa. Aos que ficaram, resta tentar descobrir o que teria levado aqueles adolescentes, aparentemente felizes e privilegiados, a tirar a própria vida. Para isso, contamos com os escritos deixados por Alê, um narrador nada confiável.



Olá! 

Estou de volta com a resenha de um autor que eu adoro! Raphael Montes não é para mim apenas uma promessa da literatura nacional, mas top 3 entre autores de suspense e terror. Esse é seu primeiro romance, mas o terceiro que leio dele, por isso iniciei a leitura com grande expectativa. Ao final do livro, foi reforçada a minha crença de estar diante de um autor excepcional.



O romance traz as últimas horas de um grupo de nove amigos que decide cometer suicídio. Seus corpos foram encontrados em condições bizarras e inexplicáveis. Por isso, um ano depois das mortes, ainda não é possível compreender o que aconteceu no porão do sítio de Zak. 


Hoje é a primeira vez que pisaremos em Cyrille’s House sem nossos pais. Também não poderia ser diferente. Não estamos indo para brincar no balanço ou nadar na piscina enquanto nossas mães conversam sobre a última moda em Paris. Dessa vez, vamos por algo muito mais sério. Nós decidimos nos matar.

A narrativa intercala vários momentos: Presente (2009), quando as investigações culminam em uma reunião entre a polícia e as mães dos suicidas. Nessa reunião, a principal investigadora do caso lê as anotações de um dos personagens, narrando os momentos finais dos jovens personagens que nomeiam essa história, aproximadamente um ano antes. Há, também, trechos do diário de Alessandro, aspirante a escritor e um dos suicidas, cujos escritos são a principal fonte de informações da polícia.


É impressionante a atração humana pela desgraça alheia. É legal ver o Fulaninho casar e a Beltraninha ter filhos, mas a notícia vende muito mais se o Fulaninho mata a Beltraninha e depois comete suicídio.

Nessas mudanças de tempo e narrador, vamos conhecendo um pouco sobre a história de cada um dos personagens e como eles se uniram nesse pacto mortal. Como se conheceram? Por que decidiram cometer suicídio? Quem morreu? Quem é a mãe de cada um deles? Essas perguntas vão sendo respondidas aos poucos, enquanto somos tomados pela angústia de perceber que os personagens não são bem o que parecem. Não existe preto ou branco, mas uma imensa área cinza que os representa.


Cliquei no link, e uma nova tela se abriu. Meu antivírus surgiu, avisando que o endereço não era seguro. Que ironia. Coloquei o site em tela cheia. O fundo era preto e as letras vermelhas. Ensinava diversas formas de cometer suicídio, com explicações detalhadas, fotos e vídeos. No final, um banner luminoso convidava a pessoa a entrar no chat. Não precisava nem de cadastro. Era só criar um nome de usuário, uma senha e pronto. Você estava dentro da brincadeira.

Ao ler sobre Zak, tudo leva a crer que estamos diante de um vilão terrível. Mas todos têm um lado sombrio. Haverá algum personagem realmente inocente nessa história?


“Se quer um conselho, tome cuidado com ele”, interrompeu Yara, pendurando o pano no ombro. “Zak é o diabo. Gosta de desgraçar a vida das pessoas, gosta de fazer os outros sofrerem...”

É uma leitura intensa, incômoda em alguns momentos, com passagens obscuras e descrições terríveis. Não sei se é possível terminar o livro sem querer estrangular o Raphael Montes. Se isso acontecer com você, leia “Dias Perfeitos” e saberá o que é odiar um autor ao final do livro. É assim que ele é. Por isso é tão incrível. Então minha dica é: leia imediatamente. Você vai amar.



Beijos e boa leitura! Depois me conte sua experiência com Raphael Montes ;)


Clique aqui e adicione Suicidas no Skoob





© Pacote Literário ♥ 2020 - Todos os direitos reservados.